Atualizado em: 9 de julho de 2021

Aos 40 anos, as mulheres já começam a enfrentar o preconceito de idade e de gênero no trabalho; consultora dá dicas para superar esses desafios

Se você está na faixa dos 50 anos e trabalha em uma empresa, ou é empreendedora, já deve ter percebido como o preconceito de idade e de gênero afeta o seu crescimento profissional nessa idade. Também acontece com os homens. Mas, o desafio para as mulheres é muito maior.

Por volta dos 50 anos, a mulher passa por muitas reviravoltas. Chega a menopausa, ocorrem mudanças familiares, geralmente um divórcio ou os filhos saindo de casa e começam a cuidar dos pais. Nesse momento, para piorar, se intensificam o preconceito de idade, porque você tem 50 anos, e de gênero, porque você é mulher.  

É cada vez maior o número de empreendedoras nessa faixa de idade. Não é fácil, mas é o caminho que muitas buscam como alternativa a essa situação.

Preconceito de idade no trabalho atinge mais a mulher madura

Conversamos com a Carine Roos, fundadora da Newa, uma consultoria especializada na capacitação de líderes e colaboradores para promover transformações nas organizações por meio da diversidade, inclusão e inovação.

Carine é formada em Sociologia e em Comunicação Social e especializada em Diversidade & Inclusão, certificada pelo Programa Executivo de Liderança Feminina da Columbia Business School. Ela já capacitou mais de 12 mil pessoas em vivências e atendeu instituições na área de tecnologia, comunicação e direitos humanos.

A consultora confirma que o preconceito de idade e de gênero nos ambientes corporativos é muito maior para as mulheres maduras. E que as mulheres na faixa dos 40 anos já podem começar a sentir o efeito desses comportamentos.

Empresas ainda dão pouca atenção à cultura do preconceito

A consultora Carine Roos afirma que a discussão sobre a questão da idade, especialmente sobre as mulheres maduras, nas organizações ainda é tímida.  

Ela explica que duas pautas estão predominando nas instituições: “Cada vez mais estão olhando para a pauta da diversidade de gênero, como mulheres em cargos de liderança, e para a inclusão racial dentro das organizações, após o movimento Black Lives Matter, desde o ano passado”.

Preconceito de idade no trabalho afeta mais as mulheres. Imagem: Freepik.

Mulheres são muito afetadas pelos preconceitos no trabalho

“Eu acredito que afeta muito as mulheres, principalmente as maduras. Eu já atendi mais de 12 mil mulheres em sensibilizações e treinamentos de liderança feminina. O público 50+ , eu diria 40+ – é bizarro falar isso, mas também aos 40 anos – tem muita dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho. E é importante falar que, quando os homens maduros estão buscando uma recolocação, eles são vistos como pessoas como mais experiência, com maior nível de senioridade, com background aprofundado. Já as mulheres são vistas como … já passou da idade, já não há mais espaço. Muitas mulheres com mais de 40 anos, que eu atendi, eram extremamente competentes mas tinham dificuldade de se recolocar. Então, aqui estamos falando de um duplo preconceito, de gênero e de idade”.  

Auto estima também fica abalada

Esses preconceitos afetam também a auto imagem das mulheres, principalmente aos 40, 50 anos. Carine conta que as mulheres que ela atendeu eram extremamente talentosas, experientes, e a cada entrevista que faziam, não tinham retorno do RH. E, elas realmente começavam a se questionar, se eram boas o suficiente e o que estava faltando para serem completas.

“A gente ouve histórias bizarras de RH falando: “Ah, você é boa demais para essa vaga”. Então, essas mulheres saiam de um processo sem transparência com a auto estima abalada.”

As jovens não escapam do preconceito  

“Eu não diria que as mulheres mais jovens estão se saindo melhor, eu diria que o preconceito é generalizado”, diz Carine.  Para a consultora, há empresas mais maduras olhando para os processos de contratação, de retenção e promoção mas ainda faltam ações concretas para mudar essa cultura.  

No entanto, Carine se diz otimista sobre as mudanças.

“Existe uma cobrança da sociedade, dos clientes que desejam que as empresas, onde eles consomem seus produtos, sejam eticamente responsáveis sócio-ambientalmente e que desenvolvam práticas de inclusão. Diversidade e inclusão não são moda, vieram para ficar”.

Conselhos para as empresas

“Quando eu apoio as empresas a repensarem seus valores sociais eu recomendo atuarem, principalmente, em duas frentes: na remoção dos obstáculos e desenvolvimento de lideranças e ações para evitar microagressões no ambiente de trabalho, os diferentes tipos de assédio, preconceitos e discriminações contra as mulheres”.

Conselhos para as mulheres

  • A mulher deve ter clareza do seu potencial e de que quais são seus valores inegociáveis
  • Ela precisa se preparar e se planejar para o mercado onde deseja atuar
  • Construir alianças dentro da organização onde ela está, ter aliados
  • Ter mentores e pessoas que são referência para ela
  • Ser mais estratégica
  • Ser mais fluente e articulada e falar sobre seus resultados
  • Se posicionar nas reuniões fazendo perguntas inteligentes
  • Ajudar as pessoas que ela lidera a serem exemplos
  • Buscar autoconhecimento
  • Mudar a percepção de si mesmas

“É comum mulheres que estão buscando trabalho irem para uma entrevista super inseguras, pensando “Será que as pessoas vão gostar de mim?”. Eu acho que tem que pensar o oposto: “Será que EU vou gostar dessa empresa?”, “Será que, com a minha experiência profissional, vou sentir que essa empresa é para mim?”

Mulheres devem apoiar umas às outras

Carine finaliza: “As mulheres precisam apoiar umas às outras. Quando uma acende, levanta uma opinião, faz uma contribuição ela permite que outras mulheres brilhem porque talvez outras mulheres não se sintam confortáveis em tomar aquela atitude. É importante que essa mulher apoie outras mulheres para que o avanço seja sistemático. Ela precisa sentir que têm um legado que deve ser passado para as outras e refletir:

“O que eu posso fazer para apoiar mulheres que estejam em uma situação menos privilegiada e de menor condição que a minha?”

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