Atualizado em: 20 de agosto de 2021

Depois da cura, mais um problema aflige quem teve covid, como eu. Os sintomas pós-covid merecem toda a sua atenção e cuidados.

Por: Mirtes Wiermann

A vacinação contra a covid está trazendo um alívio no mundo. Mas, essa doença, ainda não totalmente explicada pela ciência, afeta pacientes leves e graves mesmo após a alta. Quando você pensa que venceu a doença, novos sintomas podem surgir.  Você sabe o que são e como buscar ajuda para os sintomas pós-covid?

Eu tive covid há cinco meses e ainda experimento os sintomas pós-covid. Vou contar para vocês.

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Essa é a minha história com a covid-19

Calculo que me contaminei com o vírus da covid, em 18 de março, provavelmente em um supermercado, ou no banco, ou no botão do elevador, ou esbarrei em alguém contaminado…. jamais saberei. Vivi praticamente isolada desde o início da quarentena, e sei exatamente os dias em que sai de casa.

Um dia depois, senti sintomas de uma gripe mais forte, testei positivo e comecei a tomar vários remédios. Foram náuseas intensas que me levaram ao hospital. E lá fiquei, por 25 dias, nove na intubação.

Experiência profunda

Lembro quando fui acordada, muito desorientada.

Aos poucos, fui voltando de um estado de vazio absoluto, inconsciente, escuro.

Surgiram imagens psicodélicas de paisagens em azul e laranja, se movimentando.

Ao mesmo tempo, escutava falas gentis, chamando pelo meu nome, dizendo que eu ia acordar e que estava tudo bem.

Não entendia o que acontecia. Achava que estava no lugar errado e aquelas pessoas estavam enganadas, eu não devia estar ali. Ali, onde?!

Eu estava sendo extubada após nove dias de total inconsciência. Havia vencido a covid, as inflamações intensas no corpo…. Tinha sobrevivido! Esse foi um dos primeiros pensamentos lógicos que tive.

“Estou viva!”.

Foi o que disse à minha filha, Letícia, quando ela foi me ver na UTI. Márian e Andreas aguardavam na entrada do hospital. Marcelo acompanhava tudo desde a Alemanha. Meus amados filhos, iria vê-los ainda muitas vezes!!!

Eu vi pessoas perdendo a vida e me perguntava: porque eu sobrevivi? Tenho algum objetivo ainda a ser cumprido nessa existência? Alguma tarefa especial? O que eu devo fazer? Ainda não encontrei essa resposta. Mas, com certeza, me tornei mais sensível à ideia do fim. Vejo tudo muito diferente hoje. Algumas coisas ganharam um valor imenso, para outras não ligo mais….

Quanta sorte eu tive!

Quase 600.000 pessoas não conseguiram e perderam suas vidas no Brasil… milhares continuam perdendo, todo dia!

Sintomas pós-covid: o drama continua em casa

Em casa, começava um outro drama.

Meu quarto ganhou tubos de oxigênio, cadeira de rodas, dezenas de remédios empilhados na cômoda. Eu não ficava de pé, não andava, não segurava o garfo para comer.

Comecei a fazer fisioterapia todo dia.

Em três semanas pude sair para consultas com o cardiologista, pneumologista e nutricionista para verificar possíveis sequelas e para que me ajudassem na recuperação.

Estava isolada ainda, sem visitas, pois o sistema imunológico é bastante afetado. Estava meio confusa também. Aos poucos, um pouco a cada dia, fui retornando à consciência da nova vida.

Um mês depois, tomei coragem, e apreensiva, fui andar sozinha com a Jolie, minha yorkshire. Foram uns 50 metros na calçada. Uma vitória emocionante para mim.

Eu e a Jolie.

Daí, vieram os sintomas pós covid.

O cabelo começou a cair aos montes.

Esquecia como falar ou escrever palavras corriqueiras, como “copo”, “laranja”, “televisão”.

Surgiram dores pelo corpo. Uma fraqueza muscular persistente.

Um zumbido no ouvido, como um bando de cigarras, o tempo todo….

A sensibilidade nos dedos ainda não voltou totalmente, mas já consigo escrever como antes.

Acredito que o pior passou, embora ainda não se saiba totalmente o tamanho dos estragos que a covid provoca em uma pessoa.

Ficou uma sensibilidade intensa com relação à certeza da morte e ao sentido da vida.

Ficou também uma conexão com todos que sofrem com esse vírus, mais do que eu tinha antes.   

Essa é a minha história com a covid, que estou vivendo há cinco meses.

Imensamente grata com a vida. E aos médicos e médicas, enfermeiros e enfermeiras, aos auxiliares de cozinha e de limpeza, a todos do Hospital Ribeirãnea, onde fiquei. Foram maravilhosos. E às centenas de pessoas que me acompanharam nesse drama, torcendo e orando por mim. 

Hoje, me dedico a amar meus filhos mais ainda, minha família, meus amigos.

Uma das minhas satisfações é editar esse site. SempreBem é, mais do que nunca, uma das minhas mais importantes conexões com as pessoas, com o mundo.

O que são os sintomas pós-covid 

O período após a covid pode ser muito complicado para muitas pessoas. Mesmo após ser considerada curada, uma pessoa pode apresentar sintomas que podem durar até meses. E a ciência ainda não conhece perfeitamente os motivos da síndrome pós-covid.

De acordo com o Hospital Einstein, “muitas pessoas não desenvolvem sintomas ou então recuperam-se plenamente, mas até 80% dos recuperados sentem ao menos um sintoma, geralmente por até quatro meses, após se recuperar da doença”.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde uma em cada 10 pessoas apresentam problemas de saúde até 12 semanas após contrair a Covid-19.

Os sintomas pós covid: você tem algum? Saiba como cuidar
Infectologista Keilla Freitas

A médica infectologista Keilla Freitas explica que a síndrome pós-covid, como é chamada, é uma “condição associada a problemas no sistema nervoso central, cardiológico, pulmonar e músculo esquelético”.

Principais sintomas após a covid

  • Falta de ar ou dificuldade para respirar
  • Perda de paladar e olfato
  • Dores de cabeça
  • Dores crônicas;
  • Fadiga intensa;
  • Fraqueza muscular;
  • Alterações de memória;
  • Insônia;
  • Perda de condicionamento físico;
  • Cansaço e esgotamento mental.
  • Depressão e ansiedade
  • Agravamento de doenças preexistentes
  • Fibrose nos pulmões e/ou rins

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Tratamento multidisciplinar para os sintomas pós-covid

Sintomas pós-covid: tratamento multidicislinar. Imagem: Gerd Altmann/Pixabay

Como a covid pode provocar danos em várias partes do organismo, os médicos têm recomendado um atendimento multidisciplinar para tratar os sintomas pós-covid.

O vírus pode acometer especialmente os pulmões deixando sequelas relacionadas. Também dores de cabeça e no peito, fadiga e falhas de memória. Os sintomas podem surgir desde poucos dias após o início da infecção até 12 semanas.

Os médicos que podem ajudar pacientes com sintomas pós-covid são infectologistas, pneumologistas, cardiologistas, neurologistas, psicólogos, fisioterapeutas, entre outros. A recomendação é uma avaliação inicial com um infectologista que pode encaminhar o paciente para outros especialistas de acordo com a sua necessidade.

O infectologista e coordenador do Centro Especializado em Tratamento Pós-Covid do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, recém-inaugurado, Dr. Filipe Piastrelli, explica que é necessário acolher as queixas desses pacientes de forma multidisciplinar.

“O tratamento após a alta envolve orientações, reabilitação, dietas adequadas, prática de exercícios físicos (no momento correto e de preferência supervisionados ou prescritos por um especialista) e o tratamento sintomático das queixas remanescentes. Por isso, é fundamental contar com um time de especialistas para acompanhar, caso a caso”.

É importante cuidar da saúde como um todo. A nutrição é um fator importante para fortalecer o sistema imunológico e na recuperação de vitaminas e sair minerais perdidos durante a doença.

Como tratar a queda de cabelo após a covid

Uma das sequelas que mais tem chamado a atenção dos pacientes já curados, principalmente mulheres, é a queda de cabelos.

Vários fatores podem provocar a queda capilar, como o estresse orgânico provocado por estresse emocional, deficiências nutricionais, alterações hormonais, infecções (incluindo a COVID-19), medicamentos, insônia e mudanças no estilo de vida.  O folículo capilar é sensível a essas mudanças no funcionamento do organismo e a covid 19 tem causado vários desses tipos de estresse.  

A dermatologista Carolina Marçon diz que estamos vivendo “uma pandemia de queda de cabelo”.  

Segundo a coordenadora de dermatologia, as vitaminas sintéticas, loções e procedimentos com laser e microagulhamento, realizados em clínicas dermatológicas, podem auxiliar no tratamento da queda. Componentes como ferro, cobre, zinco, entre outras vitaminas, como a B12 e a vitamina D, auxiliam no crescimento saudável do fio e podem atenuar a queda.

“Entretanto, é fundamental que a causa base seja reparada, ou seja, uma boa alimentação, sono regular e reparador, prática de atividades físicas, correção das deficiências e desequilíbrios hormonais, são fundamentais para o sucesso terapêutico. “Meditação, ioga, leitura, organização dos períodos de sono e descanso, além da prática de exercícios físicos, também podem ajudar a minimizar os efeitos, fazendo com o que o corpo fique relaxado e menos estressado.”, destaca a médica.

A saúde mental nos cuidados pós covid

Imagem: Dusan Jovic/Unsplash.

A pandemia da covid-19 desestruturou a vida de todo mundo no planeta, de várias formas. O temor da doença e de seus efeitos, a quarentena e o isolamento social, as dificuldades econômicas, as incertezas, as internações, as sequelas do pós covid, as perdas de entes queridos….

Foi demais prá muita gente. O emocional balançou. E a saúde mental passou a ser mais uma preocupação. Como enfrentar tudo isso, ser atingido o mínimo possível?????

Psicologa Taís Junqueira Neme: “Procurar um sentido para a vida”.

A psicóloga Taís Junqueira Neme relata que os índices de tristeza e de depressão aumentaram. E que ela passou a atender também pessoas que tiveram a covid e a procuram como um apoio para a sua recuperação.

“Todos os pacientes evoluíram muito bem emocionalmente, com o suporte da psicoterapia. Conseguiram ressignificar essa fase da doença, o antes e o depois. Percebo que valorizam mais a vida, os pequenos detalhes, alguns chegaram a fazer mudanças nos relacionamentos pessoais e passaram a se valorizar mais. Passaram a cuidar mais da alimentação e do corpo, e também a valorizar a espiritualidade”

Thaís recomenda refletir sobre a covid e outras doenças que impactam a nossa vida.

“Quando adoecemos, somos obrigados a parar nossas vidas e rever o que estava bom e o que não estava e daí fazer mudanças. É importante lembrar que adoecer é uma fase bem difícil, porém as dificuldades podem nos fortalecer”.

Ela cita ainda o livro “Em busca de sentido”, do psicólogo Viktor Frankl, sobre sua experiência em um campo de concentração, na II Guerra Mundial.  

“Ele observou a si mesmo e as demais pessoas para descobrir o que fazia elas terem esperança de sair de lá vivas. E, elas relatavam ter um sentido na vida e, apesar dos pesares, transcender a situação difícil e valorizar a liberdade interior, com sonhos e planos de vida”.

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Mirtes Wiermann é jornalista e editora de SempreBem.

Foto de capa: Douglas Intrabartolo

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