Atualizado em: 20 de dezembro de 2022

A psicóloga Valeska Zanello lança livro para ajudar a compreensão dos relacionamentos e destaca a vida amorosa das mulheres

.

A psicóloga e filósofa Valeska Zanello está lançando o livro “A prateleira do amor: sobre mulheres, homens e relações”, Editora Appris, para ajudar na compreensão das relações amorosas. Os conteúdos visam especialmente as mulheres que, constantemente, se queixam de suas vivências na vida amorosa.

Claro que queremos saber os motivos. Para isso, conversamos com a Valeska.

A metáfora “prateleira do amor” exemplifica os diferentes modos de amar que mulheres e homens aprendem na nossa cultura.

Valeska Zanello tem mais de 20 anos de experiência em clínica e pesquisa em psicologia e explica que as mulheres são maioria em tratamentos para ansiedade e depressão. E que não é possível falar de saúde mental sem falar de gênero.

“É muito comum que mesmo uma mulher bem-sucedida profissionalmente, com dinheiro, com fama, seja questionada antes de qualquer coisa sobre a sua situação amorosa: ‘Casou? Tá namorando? Quando se separou? E aí, tem um paquera?’, explica a psicóloga.

“A sociedade prepara os meninos para a vida e as meninas para o amor”.

Após os 45 anos de idade, entrando na meia idade, as mulheres enfrentam dificuldades ainda maiores. Elas começaram a falar e a chamar a atenção sobre os desafios da idade madura para as mulheres, como a sexualidade, o trabalho, a invisibilidade, o envelhecimento, e abriram o debate sobre o assunto.

A VIDA AMOROSA DAS MULHERES TÊM MAIS DESAFIOS NA MATURIDADE

Essa é a nossa conversa com a psicóloga e filósofa Valeska Zanello:

Psicóloga Valeska Zanello fala sobre a vida amorosa das mulheres
Psicóloga Valeska Zanello fala sobre a vida amorosa das mulheres no livro: “A prateleira do amor: sobre mulheres, homens e relações”.

Porque os relacionamentos costumam mudar na meia idade e como afetam as mulheres?

“Um dos fatores pelos quais as mulheres são avaliadas em nossa sociedade, e aprendem a se avaliar, é o ideal estético. Ele faz parte do que eu chamo de dispositivo amoroso. Visto de uma maneira muito simples: a gente aprende que o nosso valor está muito relacionado com o corpo que a gente tem, e dentro de um ideal estético que é branco, magro e jovem.

Isso tem a ver com a prateleira do amor. Importante dizer que essa é uma aposta fadada ao fracasso até para as mulheres que ocupam um bom cargo nessa prateleira. Por exemplo, imaginem a Gisele Bundchen jovem… ela vai envelhecer, vai ter um filho, o corpo vai se transformar.

Isso quer dizer que a prateleira do amor é ruim para todas as mulheres mas é pior para algumas. Em primeiro lugar para mulheres negras, porque a prateleira é racista, mas também para as mulheres velhas, mulheres gordas, mulheres com deficiência, mulheres indígenas. A velhice é tida como uma decadência da mulher. É preciso reinventar o próprio envelhecimento e ressignificar para nós, mulheres.

E mais: mulheres negras, velhas e gordas são vistas, no máximo, como alguém com quem se tem uma relação sexual, mas não se assume uma relação afetiva.”

“Na nossa cultura os homens aprendem a amar muitas coisas e as mulheres aprendem a amar os homens.”

Porque as mulheres são as que mais se queixam da vida amorosa?

Porque existe todo um trabalho da cultura no processo de mulherificação, que nos ensina a ser mulher, que nos coloca em um lugar de mulher baseada no amor centramento, o amor identitário para as mulheres como não é para os homens.

Essa é uma frase do livro muito importante, que diz o seguinte: na nossa cultura os homens aprendem a amar muitas coisas e mulheres aprendem a amar os homens. Não pode dar certo.

Grande parte da saúde mental ou do bem estar e da satisfação das mulheres fica centrado em um único relacionamento e a tendência é que ela seja desvalorizada em função do seu envelhecimento. É necessário se reinventar e sobretudo a aprender a se nutrir afetivamente de outras fontes e não apenas da vida amorosa.

Você diz que a sociedade prepara os meninos para a vida e as meninas para o amor. Como deveria ser a educação deles e delas?

“A educação deveria apresentar possibilidades identitárias muito diversas. Temos histórias de mulheres brasileiras muito pouco conhecidas e que se destacaram na arte, política, guerra, educação e que não são apresentadas para as meninas nas escolas. É necessário aumentar o leque identitário para que as meninas possam aprender que existem muitas formas de vir a ser mulher e de se realizar como pessoa.

Para os meninos, é muito importante também ensinar outras masculinidades . A educação não prepara só para a questão da vida, ensina a amar várias coisas, mas também ensina um tipo de masculinidade que está muito adoecido e que é pautado, sobretudo, no repúdio às qualidades consideradas femininas e às mulheres. A gente precisa pensar a educação não só como um local de informação, mas de formação, sobretudo baseado em uma ideia de uma sociedade que seja mais justa e mais igualitária.”

O que é mulheridade?

“Mulheridade é esse sentimento mas também essa identidade desse lugar em que a gente é colocada como mulher. Então, o valor da mulheridade que é baseado em ser escolhida na prateleira é o valor que te dão por você estar mais próximo ou não de um certo ideal de mulher. Na nossa cultura estar sozinha é visto como um fracasso para as mulheres em geral.”

“O ideal é que cada mulher pudesse envelhecer do seu jeito, com as suas características e, principalmente, buscando aquilo que mais a satisfaz.”

Você diz que no processo de mulherificação aprendemos que apenas somos desejáveis se algum homem nos deseja. As mulheres maduras, hoje em dia, estão mais independentes com relação a isso?

“Depende da classe social. Eu acho que numa bolha de classe média alta, classe alta, talvez haja um pouco mais de desconstrução, mas o caminho ainda é longo. Grande parte das mulheres têm muita dificuldade no processo de envelhecimento e também com a sensação, sobretudo de solidão, quando estão sozinhas. A gente tem poucas oportunidades na nossa vida para desenvolver um sentimento de intimidade com a gente mesma e aprender que estar sozinha é estar, muitas vezes, melhor acompanhada do que estar com um homem que eu chamo de “perebado”.

Está surgindo um novo padrão de mulher madura que é magra, bem cuidada e de bem com a vida. Essa pode ser uma nova fonte de angústia para aquelas que não alcançam esse novo modelo? 

“É muito importante pensar que o capitalismo sempre dá um jeito de se apropriar dos movimentos de transformação social. Então, veja, quando se fala sobre o empoderamento, que é uma palavra que eu não gosto muito, o que tem sido compreendido é se maquiar, usar uma saia assim ou assado, ou seja, é melhorar a sua posição na prateleira. Para mim, essa é uma forma de empoderamento colonizado, significa conseguir um novo lugar com um pouco de poder e prestígio, mas num jogo em que você não escolheu as regras nem o jogo.

Entendo que temos de buscar a emancipação. Mudar o jogo e essas regras é sair da prateleira. Então, a gente tem vários movimentos de subversão dessa forma preconceituosa de ver a mulher envelhecendo mas, com certeza, existe já uma tentativa de apropriação de um certo ideal.

Temos que tomar cuidado. O ideal é que cada uma pudesse envelhecer do seu modo, do seu jeito, com as suas características e, principalmente, buscando aquilo que mais a satisfaz.

O envelhecimento, estou pesquisando, principalmente para as mulheres que tem letramento de gênero, ou seja, que são feministas, que estudam o feminismo, pode ser algo libertador. Porque? Dentro da nossa cultura os homens se subjetivam, sobretudo num tipo de masculinidade que valoriza a objetificação sexual das mulheres. Então, o envelhecimento para muitas é o fim da linha. Porque nós estamos tão objetificadas que a gente acha que esse é um tipo de prestígio. Mas, para aquelas que têm letramento de gênero e consciência pode ser um momento de libertação onde, por não ser objetificada, agora sobra mais do que espaço para ter liberdade na sua vida.”

Foto de topo: Niko Shogol/Pixabay

Gostou desse conteúdo? Quer receber nossas dicas de bem estar, estilo, beleza e compras para mulheres 45+? Inscreva-se em nossa Newsletter .

Compartilhe com as amigas!

emogi dando beijinho

____________________

Livro “A prateleira do Amor”, da psicóloga Valeska Zanello.

botão de compra

Fique SempreBem+

Inscreva-se em nosso boletim informativo semanal. Fique por dentro de histórias que vão inspirar você na nova idade!

[mailpoet_form id="1"]