Atualizado em: 24 de janeiro de 2022

A psicóloga Gisela Castro diz que cada pessoa experimenta o envelhecimento a seu modo. Ela escolheu lutar contra o preconceito de idade.

Por Mirtes Wiermann

O envelhecer está se transformando.

As mulheres 50+ estão vivenciando uma mudança incrível. A sociedade, as mídias e elas próprias começam a compreender, timidamente ainda, essa geração que está envelhecendo de um jeito impertinente, reivindicando novas posturas e defendendo direitos.   

Não ao preconceito de idade, não ao preconceito de gênero, não à invisibilidade!

E, Sim ao direito de envelhecer.  

Recentemente, temos visto celebridades como a atriz norte-americana Sara Jessica Parker e a modelo brasileira Cássia Ávila, se rebelarem contra críticas por estarem envelhecendo!!! Uma indignação que corre nas redes sociais de influenciers grisalhas e de anônimas seguidoras.

Para a psicóloga e pesquisadora do envelhecimento e longevidade Gisela Castro “uma vida longeva é uma benção”.

Para ela há várias formas de envelhecer. “Há, talvez, uma pluralidade maior em relação aos modos de envelhecimento”.

Gisela acredita ainda que envelhecer é uma oportunidade para fazer diferente. Ela escolheu lutar contra o preconceito de idade.

Gosto de pensar que juntas, somos mais fortes e podemos fazer diferença.

E você, como escolheu viver a segunda metade da sua vida, no pós 50 anos?

Gisela Castro falou com SempreBem e explicou como está sendo envelhecer hoje em dia.

Gisela Castro fala sobre envelhecer com novos objetivos
A psicóloga Gisela Castro pesquisa o preconceito de idade.

A mulher madura atual é diferente da geração de nossas mães e avós? Como é envelhecer hoje?

Para começar, eu tenho dificuldade com o uso do singular universal: “a mulher madura / essa mulher”.  Não é verdade que toda mulher é igual e não é verdade que todas nós experimentamos o envelhecimento do mesmo modo. Portanto, eu reivindico o uso do plural aqui para começarmos essa conversa em bases mais consistentes.

No caso da comparação com nossas mães e avós, entendo que houve uma mudança significativa no que podemos chamar de “espírito do tempo”, o arcabouço cultural no qual estamos inseridas hoje é bem diferente daquele vigente em épocas anteriores, quando as idades eram cercadas por rituais e regras muito mais rígidas, tanto em termos de comportamento quanto em termos do que vestir, o que se poderia esperar da vida etc.

É interessante a ideia vigente hoje em dia de que cada um deve encontrar o seu próprio modo, sua própria maneira de viver. Hoje não é raro vermos avó e neta usando jeans e tênis; avô e neto usando bermuda, camisa polo e sapato dockside.

Embora não tenha desaparecido de todo, o tal do “não fica bem na sua idade” foi sendo relativizado, suavizado de modo que há, talvez, uma pluralidade maior em relação aos modos de envelhecimento.

Ao lado da avó que faz bolo e tricô, temos a avó plugada na internet, que discutia Game of Thrones com os netos e netas quando a série estava no ar, que aproveita a aposentadoria para dedicação integral à família e há os que têm a agenda cheia de compromissos próprios e não têm tempo para netos e netas.

Como a mulher está envelhecendo atualmente? Como é envelhecer no Brasil?

Como eu tenho dito, o envelhecimento é um processo multifacetado e complexo que se desenvolve de modo singular em cada um e cada uma de nós. Trata-se de um processo biológico, psicossocial, cultural — e biográfico.

Embora possa haver pontos em comum, o que se sabe é que cada pessoa experimenta o envelhecimento a seu modo.

No contemporâneo, por uma série de razões, a juventude se descolou de uma faixa etária específica e se tornou um verdadeiro imperativo social: algo que todos e todas devemos exibir em qualquer idade.

Nem sempre foi assim, mas hoje diz-se que vivemos em uma cultura jovem-cêntrica. Envelhecer em uma cultura jovem-cêntrica pode ser especialmente difícil por implicar em perda de prestígio e poder social.

No rol das escandalosas desigualdades sociais que assolam o Brasil, a desigualdade etária tem frequentemente passado despercebida nas lutas sociais.

Ainda assim parece que estamos aos poucos, muito lentamente, tomando contato com a realidade do grande contingente de brasileiros mais velhos que estão transformando a antiga pirâmide etária em um polígono de base mais estreita e topo mais largo, que já não mais se assemelha a uma pirâmide. A significativa diminuição no número de nascimentos, bem como o aumento da expectativa de vida (embora esse indicador tenha sido impactado e recalculado para menor em função da pandemia ainda em vigor), dentre outros fatores, levaram a que a histórica predominância de crianças e jovens na nossa população tenha dado lugar a uma inédita predominância de pessoas de 35 anos ou mais, notadamente mulheres. Assim sendo, diz-se que a população brasileira está envelhecendo. As projeções indicam que em breve teremos um percentual de pessoas idosas na população tão alto quanto o do Japão hoje. No entanto, como é ainda persistente o mito do país jovem quando se fala sobre o Brasil!

É frustrante para uma mulher produtiva, seja como profissional ou dona de casa, passar dos 50 anos e perceber que perdeu sua importância social?

As mulheres são muito mais cobradas em função da vigência de uma visão preconceituosa e antiquada que atribui relevância social com base em um padrão muito estreito de beleza juvenil.

É interessante notar, nesse ponto, que o preconceito em questão (que eu chamo de idadismo ou etarismo misturado com sexismo) não está somente localizado no olhar masculino, como já foi dito, mas é muitas vezes levado adiante por mulheres que, elas próprias, aderem ao ideário machista que equaciona envelhecer com perda de atributos e, por conseguinte, perda de prestígio.

Os preconceitos acontecem em todas as classes sociais?

Sim, porém vale ressaltar que a classe social, ela própria, funciona como um importante fator a mais de preconceito. Por várias razões, nas nossas sociedades costuma ser muito mais difícil ser velha e pobre do que ser velha e rica.

A maturidade trouxe novas pressões, como a de parecer jovem e bonita?

A pressão é enorme. Em muitas esferas sociais, parecer jovem é um must. A bilionária indústria anti-idade capitaliza anseios e frustrações na forma de insumos e intervenções que visam manter a aparência juvenil que é cada vez mais alardeada como estandarte de ‘beleza’ e ‘saúde’. Nesses termos, o “cuidar de si” costuma ser equiparado a fazer uso regular de tais insumos para lutar contra os sinais do envelhecimento. Tudo se passa como se todos devessem se engajar diligentemente nessa luta moral, dever de cada um e, sobretudo, de cada uma.

Para muitas pessoas chegar aos 50 anos é chegar à metade da vida. O que fazer na outra metade?

Não é raro encontrar quem esteja começando novas atividades profissionais, de estudo ou lazer aos 50 ou 60 anos. Ainda que existam barreiras e limites impostos em determinadas carreiras, muitas pessoas dão continuidade a suas vidas profissionais além dos 70, 75 anos.

O que fazer quando ‘a idade’ chegar pode ser assustador se o projeto de vida não contemplar as vicissitudes do envelhecer. Pouca gente pensa sobre o envelhecer como uma oportunidade para fazer diferente, pensar diferente e viver de modo diferente. Não parece limitante enxergar só dificuldade ou perda no passar dos anos? Não parece estranho querer que tudo fique para sempre igual? Uma vida longeva é uma benção! E para cada vez mais de nós, uma conquista do contemporâneo.

Em meio a tantas causas sociais importantes, eu escolhi lutar contra o preconceito do idadismo. Procuro dar minha contribuição sempre que possível, ao lado de tantas outras pessoas que hoje batalham contra a estigmatização das velhices. Gosto de pensar que juntas, somos mais fortes e podemos fazer diferença.

Como você escolheu viver a sua maturidade?

Eu já passei dos 60. Não vou dizer que a idade não importa porque não acredito nisso. Também não entendo a meia idade como uma faixa na qual nós podemos “estacionar” a bel prazer. Continuo firmemente empenhada em cuidar da saúde, aprender o máximo que posso e ensinar tudo o que eu sei. Formar pessoas, passar adiante um legado tem sido um dos privilégios da maturidade. Tempo vivido é também patrimônio.

Percebo que a gente vai mudando com o tempo. Uma das maiores lições parece ser constatar que a gente é muito mais capaz de se adaptar do que a maioria pensa. .  Fazer de tudo em meu alcance pra vida valer a pena a cada dia: essa é uma lição que vale a pena praticar até o fim da vida. 

Gisela Castro é psicóloga (IP/UFRJ), Mestre e Doutora em Comunicação e Cultura (ECO/UFRJ), docente titular do Programa de Pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM, São Paulo. Desenvolve pesquisa sobre os modos de apresentação das pessoas mais velhas na cultura audiovisual contemporânea e milita contra o idadismo na mídia. Coordena o Grupo CNPq/ESPM de Pesquisa em Subjetividade, Comunicação e Consumo (GRUSCCO) e o Comitê ESPM de Direitos Humanos.

Foto de capa: Pexels / AL

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